“Numa floresta desconhecida para a ciência branca, o Kayapó anda pela floresta como se estivesse escolhendo entre as gôndolas de um fantástico armazém ou shopping Center o produto de sua preferência. Diferença, porém, é que ele criou aquele empório natural. Os modernos arqueólogos sabem que para pesquisar antigas civilizações na Amazônia devem procurar as regiões onde existem muitas essências frutíferas ou alimentos, sinal inconfundível da modelagem e enriquecimento da paisagem pela tecnologia silvícola.”
William Leslie Overal, PhD em Zoologia e Entomologia pela universidade de Kansas, viveu e aprendeu com os índios Kayapós durante duas décadas
A Produção do Espaço Florestal
Já há algum tempo a biologia vem descobrindo que a biodiversidade das florestas tropicais tem grande contribuição das populações humanas “primitivas” que as habitam. Estas realizam sua sobrevivência selecionando determinadas espécies animais e vegetais e abrindo clareiras na mata para formar aldeias e roças. Mas não ficam ali para sempre. Deslocam-se de tempos em tempos, permitindo a regeneração da mata na clareira, o que acelera seus processos biológicos.
O texto de Overal acima é bastante claro sobre o “fazer floresta” dos Kayapós.
O fato da “modelagem e enriquecimento da paisagem”, ora rica em frutos e alimentos, servir de base para a busca de antigas civilizações, deixa claro que há modos-de-produção que conseguem produzir o seu espaço em equilíbrio com a natureza, coisa que temos de reaprender.